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12 de janeiro de 2010

Chuva

Acabo de ler uma crônica do mestre Luis Fernando Veríssimo sobre chuva que me fez refletir. A chuva existe, realmente, desde que o mundo é mundo. O Grande Dilúvio foi causado, entre outras razões, por muita chuva. Assim sendo, por que ainda nos surpreendemos tanto quando ocorrem tragédias como as que têm acontecido no último mês? Por que tratamos toda enchente, todo desmoronamento, como se fossem coisas inéditas?

A questão da memória seletiva é pertinente aqui. Memória seletiva, no meu (raso) entendimento, é a capacidade que o cérebro tem de escolher aquilo que quer lembrar e quando quer fazê-lo. No caso da chuva, por exemplo. Quando o dia está bonito e faz calor, ninguém pensa que pode chover, que a rua alaga fácil. Todos vão para a praia - ou para a piscina, se você mora em alguma cidade longe do litoral. A pessoa só lembra do problema quando começa a chover. E aí vem o pânico.

Outro ponto interessante é o gosto pela tragédia. Já reparou que brasileiro (e creio que não apenas brasileiros) tem gosto pela desgraça? Basta ver que os dias em que os jornais mais são vendidos e assistidos são aqueles em que acontecem tragédias. Terremotos, maremotos, ataques terroristas, enchentes, acidentes aéreos/de trânsito... Com esse desejo ardente - e inconsciente - pelo acontecimento marcante, o brasileiro simplesmente ignora as possibilidades de algo ruim acontecer para que, quando isso de fato ocorrer, ele possa se colocar na posição de vítima. Sei lá, na minha cabeça isso fez sentido.



Creio, porém, que o grande motivo pelo qual ainda tratamos toda e qualquer desgraça relacionada à chuva como se fosse algo inédito é que somos burros. Sim, somos burros, e não aprendemos com nossos erros anteriores. Está certo que hoje em dia é difícil arranjar um lugar para morar, mas quão esperta é uma pessoa que constroi seu casebre no pé de uma encosta? Ou, pior, no topo da encosta? Sabendo que bueiros entopem com facilidade, pode ser considerado inteligente o cidadão que joga lixo na rua?

Como disse Veríssimo em seu excelente texto, o precedente da chuva ainda não nos ensinou nada. Mesmo em cidades onde a chuva faz parte do cenário (Itaperuna, por exemplo, tem até data marcada para as enchentes), nós simplesmente escolhemos ignorá-la. E enquanto isso continuar acontecendo, toda vez que chover, olharemos para cima com expressão de pavor, pensando: "Meu Deus, o que é isso? Água caindo do céu?".

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