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8 de outubro de 2010

O deus da riqueza

De tempos em tempos, as igrejas evangélicas entram numas “modas” que invariavelmente acabam roubando, ainda que indiretamente (e até sem querer), a verdadeira essência do evangelho. Houve a época em que todo mundo era apaixonado por Deus – usando esse termo mesmo, “paixão” -, onde nove entre dez músicas de artistas cristãos falavam sobre estar apaixonado por Deus. Houve a época da batalha espiritual, onde tudo era culpa de demônios, tudo era influência maligna e era preciso passar por um processo bem complexo de “libertação e cura”. De uns tempos para cá, vivemos o evangelho da riqueza.
Primeiro, gostaria de dizer que não me oponho à riqueza. Pelo contrário. Seria hipocrisia dizer que não quero ser rico. Todo mundo quer. O que me incomoda é que o que tem sido pregado em muitas igrejas (e não só em igrejas, mas também na televisão, por grandes “líderes” de denominações) é que ser cristão é um passo certo para a riqueza. O que tem sido pregado hoje em dia é a teologia do “plantar para colher”, do “Deus quer te abençoar”, da “oferta de fé”, sempre com foco para a mudança rápida de padrão de vida daquele que resolve doar.

A igreja está cheia de mendigos pedindo esmolas para Deus

Sou cristão há pouco tempo, mas nunca concordei com esta visão de que Deus deseja tornar seu povo rico. Isto não é bíblico. Bom, pelo menos não me lembro de ter lido nada do tipo na bíblia. Há na bíblia referências à prosperidade? Sem dúvidas! Abraão tinha muitas terras, Jó foi o cara mais rico de sua época, José foi governador do Egito... Mas não há, em nenhum trecho das escrituras, algo como “... e Deus olhou para o seu povo e resolveu dar-lhe terras, gado, ouro, prata e pedras preciosas”.
A pessoa que busca riqueza em Deus está querendo muito pouco. Se alguém acha que isso é tudo que Deus pode oferecer, me desculpe, mas não é. Sem querer ofender a fé de ninguém – mas defendendo a minha -, penso que ter uma vida espiritual que foque apenas nas coisas deste mundo é uma tremenda perda de tempo. Se a bíblia me diz para não me preocupar em juntar riquezas na terra, mas no céu, e eu só me preocupo com o que posso ter aqui, estou fazendo algo errado, não? Mas se dar uma oferta de mil reais, dois mil, acreditando que Deus vai devolver sete, dez, vinte vezes mais é o máximo de sua fé nas bênçãos de Deus, está na hora de entender quem realmente Deus é e o que ele realmente pode fazer.
Para quem não acredita em Deus, é fácil e cômodo apontar o dedo para os evangélicos por causa desta questão financeira. Muita besteira é dita e feita em nome de Deus, mas que na verdade só visa o enriquecimento de algumas (poucas pessoas). Mas o que essas pessoas provavelmente não sabem (e não creem, provavelmente) é que Deus liberta, Deus cura, Deus ama. E é nesse amor que creio e por ele dedico minha vida a Deus. E é por causa desse amor que me recuso a servir a Deus esperando um carrão ou uma mansão como pagamento. Nesse deus (com ‘d’ minúsculo mesmo) cujo único mérito é distribuir dinheiro eu não creio, nunca vou crer e sinceramente tenho pena de quem crê.


* Este texto foi totalmente influenciado pelo ótimo post “Minha Declaração de Apostasia”, escrito pelo Rafael, do blog Escrito em Geez.