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30 de agosto de 2010

A Falácia do Crescimento

Quando o assunto a ser debatido é política, certamente os ânimos se acirram. As pessoas leem a política de formas diferentes. Enquanto para alguns as coisas vão bem, para outros está tudo errado. Política é assim. Assim como muitos – infelizmente não posso dizer todos, porque ainda existe gente que pensa “política não é pra mim” -, tenho as minhas convicções sobre o assunto, e tento defendê-las sempre que o assunto surge.
Na última sexta-feira, dia 27 de agosto de 2010 (estou especificando a data caso alguém venha a ler este texto muito tempo depois), tive a oportunidade de entrevistar a juíza eleitora de Itaperuna, Dra. Sheila Draxler. O objetivo da entrevista era falar sobre a propaganda eleitoral nas ruas da cidade, algumas normas para a divulgação de candidatos em veículos de mídia e a fiscalização disso. Apenas isso. No entanto, a conversa fluiu com certa facilidade e, em certo ponto, o assunto era a administração atual do país.
Conversando sobre determinados expedientes do Governo que achamos questionáveis, chegamos a um ponto da conversa que me deixou feliz e que serve de título para este texto: a falácia promovida pela liderança do Brasil para mostrar um falso crescimento. Digo que fiquei feliz porque saber que uma juíza, alguém que certamente possui muito mais instrução e conhecimento político e legislativo que eu, compartilha do mesmo ponto de vista que eu. A falácia, no caso, se refere a algumas estatísticas divulgadas pelo Governo sobre Educação e alfabetização, entre outros.


Segundo a juíza, um verdadeiro absurdo é a aprovação automática de alunos nas escolas públicas. Nas palavras da própria, “a educação vai piorar muito com esta medida. O aluno não sabe escrever, não sabe fazer cálculos e mesmo assim passa de série. Nas estatísticas, o ensino vai bem, porque o nível de reprovação vai quase a zero. Mas e a qualidade desse ensino? Ou será que só vale a quantidade de alunos aprovados? Como juíza eleitoral, tenho a oportunidade de aplicar provas de conhecimento a candidatos, para saber seu nível de escolaridade. Recebi candidatos que não sabem nem escrever a palavra ‘constituição’, então imagine se uma pessoa dessas poderá conhecer a Constituição Federal”. E assim acontece com a questão da alfabetização. A pessoa aprende a escrever seu nome, seu endereço e é considerada alfabetizada. Não sabe mais nada, mas nos números o analfabetismo diminui mês após mês.
Sobre o processo eleitoral, Dra. Sheila foi mais clara ainda: “as pessoas trocam seus votos por migalhas. Um saco de cimento, um telhado, até por dinheiro. Existem pessoas que trocam seus votos por promessas de melhorias que já são dever do político. Por exemplo: o político chega no bairro e vê que ali não tem asfalto. Ele promete asfaltar, e assim consegue muitos votos. Mas é obrigação dele fazer isso, o eleitor não tem que trocar o seu voto por algo que o político deve fazer. Aliás, ele não tem que trocar seu voto por nada”.
Longe de mim entrar em questões mais profundas, mas tenho que concordar que o assistencialismo puro e simples, como é feito pelo Governo, não surte os resultados desejados. Falam em acabar com a miséria, mas a que custo? Criando uma geração de pessoas que se aproveitam de benefícios para não trabalhar? Esta é uma questão séria, que envolve uma série de fatores que sinceramente desconheço. Mas o questionamento fica.

24 de agosto de 2010

Diálogo Sobre a Objetividade

- Teu texto é pouco objetivo.
- Como assim, “pouco objetivo”?
- Pouco objetivo, ora. Não possui objetividade.
- Isso eu entendi. O que eu não entendi é por que ele é pouco objetivo.
- Porque ele dá muitas voltas, sai do assunto toda hora, é metido a engraçadinho...
- Mas é uma crônica!
- Não interessa.
- [suspiro profundo]
- Não te ensinaram a ir direto ao ponto na faculdade?
- [em voz baixa] Pelo menos eu terminei a faculdade...
- O quê?!
- Nada. Olha só, as crônicas geralmente são assim, abordam o assunto em pauta de outra maneira, geralmente com toques de humor, mas não obrigatoriamente.
- Eu sei o que é crônica, muito obrigado.
- Tem certeza?
- Além de ter pouca objetividade, teu texto não tem graça.
- Mas eu sou jornalista, não humorista!
- Pois é, mas não foi tu mesmo que me disse que crônica tem toques de humor?
- É, mas toque de humor é uma coisa, palhaçada é outra!
- Mas não tem nem toque, nem peteleco, nem um humorzinho de raspão nesse texto.
- [suspiro profundo]
- E outra coisa. Muita palavra repetida.
- Muita palav... Criatura, como assim, “muita palavra repetida”?
- Tu tá surdo hoje? Muita palavra repetida, significa que tu usou muitas vezes a mesma palavra.
- Já te ocorreu que isso pode ser intencional?
- E pra que tu iria repetir uma palavra de propósito?
- [suspiro] Pra reforçar uma idéia, pra fortalecer um argumento, pra manter o assunto no foco que eu desejo mostrar ao leitor.
- Faz outro.
- Mas a minha coluna sai amanhã! O jornal vai pra gráfica daqui a duas horas!
- Pois é. Faz outro.
- Como é que eu vou escrever um texto de meia página em menos de duas horas?
- Te vira. Ou tu escreve isso logo, ou eu coloco um texto do Luis.
- Peraí, não precisa ameaçar. Tô indo.