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31 de maio de 2010

Haiti - Dia 02

Acordamos antes das seis da manhã. Não sei como é essa questão do sono para você, mas pra mim isso é um problema. Sofri de insônia por alguns anos, então quando consigo dormir, prezo muito por esse tempo. No Haiti, abri mão do conforto do sono. Aliás, abri mão do conforto, ponto. Não existe conforto no Haiti. Pense você que nós ficamos em um lugar bom, numa casa considerada de classe média alta, e ainda assim dormimos todos na varanda da casa, debaixo de lonas, em sacos de dormir da espessura de um bife de hambúrguer. Bom, voltando ao assunto, acordamos antes das seis da manhã.
Comemos uma deliciosa macarronada no café da manhã, devidamente temperada com o que o haitiano mais usa em sua cozinha: pimenta. Macarronada apimentada com banana frita e suco no café da manhã. Nessa hora, as equipes já estavam se preparando, cada uma para seguir para a sua tarefa. Fiquei na equipe médica. Juntamos as malas com os medicamentos e os equipamentos, entramos no ônibus escolar que nos servia de transporte e partimos para um dos bairros mais pobres da capital, Tabas.

Esse era o nosso transporte por lá: um ônibus escolar

Nosso objetivo, nesse primeiro dia de atendimentos médicos, era atender aproximadamente 100 pessoas, entre crianças e adultos, no orfanato organizado pelo pastor Winslet Methenis em sua própria casa. Antes do terremoto, o pastor cuidava de pouco mais de dez crianças. Após a catástrofe, o número subiu para quase 50. Montamos nossa estrutura sob uma lona daquelas de exército, que protegem bastante da chuva. Se tivesse chovido naquele dia, a lona seria útil. No entanto, o calor de 42 graus só transformou a tenda num forno. O dia foi tenso, pois não sabíamos direito o que iríamos encontrar por lá. O haitiano, em geral, não tem noção de organização. Para ele, o que interessa é o aqui e o agora. Depois, se vê o que faz. Com a comida é assim, com as roupas é assim, e infelizmente foi assim com o atendimento médico. Por mais que nos esforçássemos para manter a ordem e organizar filas, eles simplesmente não entendiam que todos seriam atendidos. Todos têm a mentalidade do “eu primeiro”, o que dificultou um pouco as coisas. Chegamos no orfanato pouco depois das nove horas e saímos às quatro da tarde, após 120 atendimentos. Exaustos, voltamos para nossa base, a casa do pastor Demero.


À noite, participamos de mais um culto. A pregação ficou por conta do pastor Osmundo, de Campinas (SP), que botou o povo literalmente pra marchar. Foi engraçado e abençoador, apesar de eu estar tão cansado que quase não consegui me manter acordado. Tive uma ótima conversa com o Roni, de São José dos Campos (SP), sobre diversos aspectos da vida cristã. O que mais me chamou a atenção foi que, para ele, a viagem estava servindo para uma coisa, enquanto para mim, para outra. E isso pude notar: cada um estava ali por um motivo diferente. No entanto, uma coisa era comum a todos: independente de qual era a tarefa a ser desempenhada, todos estavam ali com a convicção de que nosso trabalho estava fazendo a diferença na vida de algumas pessoas. E essa era a melhor recompensa de todas.

26 de maio de 2010

As camisas das 32 seleções da Copa

á que faltam poucos dias para o início da Copa do Mundo de futebol, eis aí as camisas oficiais de todas as seleções que irão disputar o mundial. Algumas estão bonitas, outras, nem tanto. Começando pelo Grupo A, da anfitriã África do Sul. Deixe aí sua opinião.


Grupo B
Grupo C
Grupo D
Grupo E
Grupo F
Grupo G
Grupo H

12 de maio de 2010

Haiti - Dia 01

Chegamos ao Panamá por volta de 09h30min (horário local, 11h30min no horário de Brasília). Foi um voo longo e desconfortável para mim, pois fui sentado na poltrona do meio, tendo do meu lado direito o pastor Mário Freitas (que, apesar de já ter emagrecido um bocado por causa da cirurgia, ainda ocupa um espaço legal) e do esquerdo um senhor sem o menor escrúpulo de colocar um travesseiro encostado na minha orelha. Não consegui dormir direito e cheguei ao Panamá bastante cansado. Mesmo assim, a excitação pela viagem havia me dominado de tal maneira que saí a passear pelo Aeroporto Internacional Tocumen.
Em um saguão próximo ao nosso portão de embarque, tivemos uma reunião com a equipe completa. Nesse momento, o Pr. Mário dividiu as equipes, deu as orientações necessárias e nos inseriu no contexto cultural haitiano. Aprendemos algumas características do Haiti, entendemos (na medida do possível) como deveríamos proceder com as pessoas e, acima de tudo, ouvimos que deveríamos comer tudo daquilo que nos fosse oferecido. E isso não é só sobre comida.
Partimos para Port-au-Prince às 12h (para facilitar, toda vez que aparecer um horário de agora em diante, será no horário do Haiti, ou seja, duas horas a menos do que no Brasil) e chegamos lá por volta de 14h30min. Logo de cara, já notamos um pequeno sinal do terremoto: uma enorme rachadura na fachada do Aeroporto Internacional Toussaint Louverture. Do lado de dentro do aeroporto, uma banda recebia os visitantes tocando um ritmo caribenho que nem me arrisco a dizer o nome. Exótico, se você precisa de um adjetivo.
Um fato sobre a chegada no Haiti: é praticamente impossível sair do aeroporto sem gastar algum dinheiro. O portão do desembarque internacional fica abarrotado de gente tentando carregar as bagagens dos viajantes até o carro para conseguir algum trocado. Mesmo com o auxílio do pastor Vijonet Demero, nosso anfitrião no país, foi difícil chegar até os carros que nos esperavam sem gritar para algumas pessoas que não era necessário pegar nossas malas. Junte isso a um calor quase saariano e você terá um bom retrato do que é a primeira impressão geral de Port-au-Prince.
Fomos muito bem recebidos pelos membros da igreja do pastor Demero, um tipo de carinho com o qual não estou acostumado. Confesso, fiquei emocionado. Depois de breves apresentações, fomos levados por uma van para testemunhar o que o terremoto de magnitude Richter 7 fez na capital do Haiti. Aqui, desculpe, não há palavras que
descrevam com fidelidade o que senti vendo tudo aquilo. Essa foto é apenas um exemplo da triste realidade haitiana.


Voltamos para a casa do pastor e o que vimos foi, talvez, mais surpreendente do que a destruição da cidade: um dos cultos mais animados que já vi na vida. As pessoas cantavam e dançavam com tanta alegria que foi impossível não entrar no clima. Uma aula do que é ser verdadeiramente feliz com Deus. Apesar de não entender uma palavra de criolle, a língua oficial do Haiti, senti algo muito especial naquele culto. Ali, muita coisa começou a mudar dentro de mim. De novo, não há como descrever isso.
Quando o culto terminou, fomos jantar. Salada de repolho com cenoura, frango frito e banana frita. A salada é, basicamente, pimenta com um pouquinho de repolho em cima. Queimei até a parte externa da boca. O frango, nem arrisquei. A banana, sabe-se lá como, fica salgada e muito crocante. Gostei. Depois do rango, arrumamos nossos sacos de dormir/colchonetes na varanda – como muitas estruturas foram danificadas no país, pouca gente arrisca dormir dentro das construções – e dormimos. Estava tão cansado que nem vi a chuva que caiu durante a noite. Graças a Deus pelas lonas que cobriam a varanda.

5 de maio de 2010

Haiti - Dia 00

É impossível começar a escrever sobre o tempo que passei no Haiti sem contar um pouco do que aconteceu no dia 0, ou seja, no dia anterior à viagem. Sem alguns eventos que aconteceram nesse dia, talvez outros não tivessem ocorrido nos sete dias posteriores.
Saí de Itaperuna no dia 18 de abril, um domingo, às 16:20, na primeira etapa da viagem. Foram pouco menos de duas horas até chegar a Campos dos Goytacazes, onde esperei por mais duas horas até chegar o ônibus para a capital paulista. Embarquei às 20 horas, tomei um remedinho contra enjoo e só acordei em Resende, último município fluminense antes de chegar ao estado de São Paulo. Desci, comi alguma coisa – salvo engano, foi um croissant de queijo (que estava frio e duro, muito ruim e ainda me custou R$ 4) -, lavei o rosto e voltei para o ônibus. Dormi até chegar à Terra da Garoa e ser recebido por aquele adorável trânsito.
Desci no terminal Tietê às 7:40 de segunda-feira, dia 19. Peguei a mochila, achei um orelhão e liguei para o até então desconhecido Matheus Ortega, a quem tinha sido passada a ingrata tarefa de ser meu cicerone até a hora do embarque para Port-au-Prince. Já comecei bem, acordando o cara. Combinei com ele o lugar onde nos encontraríamos, peguei o metrô – abarrotado de gente – e desci na estação Praça da Árvore. Dois minutos depois, chega o Matheus, com a cara de quem tinha acabado de acordar e estava tentando disfarçar isso para não me deixar sem graça.
Passei o dia na casa dos Ortegas e tive a oportunidade de conversar um pouco mais com o Matheus. Poucas vezes na vida simpatizei tão rápido com uma pessoa. Em nossos curtos papos (afinal, estávamos os dois cansados e queríamos dormir), recebi do Matt diversas palavras importantes para minha vida, e acho que ele nem esperava isso. Uma coisa martelava insistentemente no meu coração, e com uma simples frase, o Matheus me ajudou a superá-la: “É, cara, o evangelho também é renúncia”. Pronto, simples e direto. De qualquer maneira, foi um dia muito agradável. Conheci sua mãe, seus irmãos e uma tia, todos igualmente simpáticos e gentis.


À noite, compramos os mantimentos para a viagem, arrumamos as malas e partimos para o aeroporto de Guarulhos. Lá, nos encontramos com o restante da equipe, 15 pessoas de lugares, igrejas e com funções sociais bem diferentes. Mesmo assim, a atmosfera era ótima. Todos sorriam, tendo a certeza de que os próximos dias seriam transformadores para todos.
Partimos para a praça de alimentação, onde tomei um delicioso sundae de chocolate enquanto os outros comiam coisas mais saudáveis (ou não) para aguentar a longa viagem de quase sete horas até o Panamá. Perto das três da manhã, fomos todos para a sala de embarque, prontos para virar haitianos durante sete dias. Às 03:50 da terça, dia 20, levantamos voo. Começava aí nossa breve e inesquecível viagem ao Haiti.

3 de maio de 2010

Haiti: Prólogo

Bom, como alguns podem saber, passei por uma incrível experiência no Haiti e pretendo compartilhá-la em detalhes por aqui. Ainda estou escrevendo os textos e espero que o caro leitor goste do que ler por aqui. Mas, acima de tudo, espero que o leitor se sinta tocado e decida ajudar de alguma maneira ao povo sofrido do Haiti. Em breve, a odisseia.

 É assim que o povo haitiano vive agora: em barracas de lona.