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28 de janeiro de 2010

Processo de Criação

Mesmo com os problemas corriqueiros no trabalho, mesmo faltando relativamente pouco tempo para o casamento, mesmo com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, resolvi dar o primeiro passo em direção à realização de um sonho antigo: a criação de meu projeto multimídia "Jardins Cinzentos".

Para quem não sabe, sou jornalista, músico e entusiasta de diversos tipos de arte, entre eles a fotografia. E uma ideia que martela minha cabeça há muito tempo é a de escrever um livro, cujo título é "Jardins Cinzentos". Por enquanto, só tenho o título e algumas ideias soltas, ainda precisando de muito trabalho para que formem a história que pretendo escrever. Quase ao mesmo tempo em que pintou o desejo de escrever um livro, bateu a vontade também de gravar um disco de música instrumental. Sou contrabaixista por natureza, mas toco um pouco de bateria, de teclado, de guitarra e de violão, além de ter uma noção de arranjo de instrumentos de cordas (como violino, cello e por aí vai). Juntando a fome com a vontade de comer, pensei: "Por que não fazer um disco meio que de trilha sonora pro meu livro?". E aí surgiu o conceito do álbum, que terá o mesmo nome do livro.



Para completar esse projeto (que já sei que não vai ser simples e que pode muito bem nunca sair do papel), pensei recentemente em criar uma espécie de álbum fotográfico seguindo a mesma linha da história e do CD, no mesmo clima, com a mesma atmosfera. Adivinha o nome da exposição? Pois é. Meu ousado projeto é lançar um pacotão disso tudo num futuro não muito distante, ou seja, livro + CD + livreto com as fotos.

Então é com alegria e frio na barriga que anuncio aos amigos que, a partir de hoje, entro em processo de criação ininterrupto (assim espero) do projeto "Jardins Cinzentos".

20 de janeiro de 2010

NY Times começará a cobrar para acessar o site

Não sou de colocar notícias no blog, mas essa é realmente interessante: o New York Times, um dos maiores jornais do mundo, confirmou que passará a cobrar pelo acesso a seu site a partir de 2011. Mas por que isso é importante? Porque abre um precedente enorme para todos os outros jornais fazerem o mesmo - aqueles que ainda não fazem, que fique bem claro.

Os rumores de que isso ia acontecer vazaram no final de semana, mas agora o fato foi confirmado e oficializado. O que o NY Times vai fazer não é exatamente cobrar por todo o acesso do site, e sim algo mais inteligente. O jornal vai oferecer acesso livre a um número 'x' de artigos e notícias; estourado esse limite, aí sim o usuário deverá pagar para continuar acessando o conteúdo do site.



Com isso, o jornal espera ter um balanço interessante entre o conteúdo livre e o pago, e espera, assim, obter receita tanto de publicidade quanto dos usuários. "Nós acreditamos que nossos leitores aceitarão, sim, pagar pelo conteúdo digital do Times, que é um jornal ganhador de muitos prêmios nessa área", diz o presidente da companhia, Arthur Sulzberger Jr.

via @mashable

19 de janeiro de 2010

[Review] Eduardo Spohr - A Batalha do Apocalipse

"Há muitos e muitos anos, há tantos anos quanto o número de estrelas no céu, o Paraíso Celeste foi palco de um terrível levante. Um grupo de anjos guerreiros, amantes da justiça e da liberdade, desafiou a tirania dos poderosos arcanjos, levantando armas contra seus opressores. Expulsos, os renegados foram forçados ao exílio, e condenados a vagar pelo mundo dos homens até o dia do Juízo Final."

Antes o Primeiro General dos Querubins, a casta dos anjos guerreiros, Ablon agora é um Anjo Renegado, preso à sua forma humana, seu avatar, para sempre. Em busca de justiça ou vingança - a fronteira entre as duas é tênue - contra Miguel, o Príncipe, primogênito de Deus e maior entre os cinco Arcanjos (apesar de poderosos, Gabriel, Uziel, Rafael e Lúcifer não são páreo para o irmão), o Querubim passa por quase todas as eras e culturas da humanidade, desde as ruínas da Babilônia até o Império Romano, da China antiga até a fria Inglaterra Medieval.

É na Babilônia que a história de Ablon se cruza com a da feiticeira de En-Dor, Shamira. Shamira, uma necromante iniciante, é capturada pelo exército babilônico e jogada nos calabouços mais profundos do rei Imortal, Nimrod, após se recusar a cooperar com este. Contando com a colaboração de escravos insatisfeitos, a feiticeira consegue fugir para o deserto, onde encontra o Anjo Renegado. Começa, assim, uma amizade que duraria, literalmente, até o fim dos tempos.

A Batalha do Apocalipse, primeiro livro de Eduardo Spohr, já nasceu com cara de clássico. E isso não é exagero. Confesso que quando ouvi o Nerdcast (podcast do site Jovem Nerd) de número 80, que trata justamente sobre a obra de Spohr, achei um certo exagero o hype criado por Alexandre Ottoni e Deive Pazos, os donos do site e do podcast. Em determinado momento, o próprio autor diz: "Queria, assim como fez Tolkien, criar não apenas uma história, mas um universo". Nessa hora, eu apertei o stop e pensei: "Quem esse cara pensa que é, pra se comparar ao Tolkien?".  Tudo me pareceu meio exagerado, apenas para vender o livro mesmo. Se tivesse ouvido mais 30 segundos do programa, ouviria Spohr completando a frase com um "não estou me comparando com Tolkien, só dizendo que tentei fazer algo parecido com o que ele fez". Se não foi isso, foi quase isso.

O difícil de fazer uma resenha sobre A Batalha do Apocalipse é que qualquer coisa que for dita pode estragar uma surpresa. Então, vou tecer meus comentários sem dar spoilers. A característica que salta aos olhos logo de cara no texto de Spohr é sua qualidade descritiva, que beira o cinematográfico. É impossível não visualizar os cenários, os objetos e os personagens como em um épico de ação. Aliás, "épico" é um termo preciso para descrever o clima que a história tem, do início ao fim. Outro grande trunfo do autor são os diálogos. Uma história boa não sobrevive sem bons diálogos, e os diálogos são simplesmente sensacionais. É possível sentir cada emoção dos personagens através de suas falas. Há uma identificação (ou repulsa) quase que imediata com os personagens apenas pela maneira com que se expressam.



Mas falar de A Batalha do Apocalipse sem falar de seus personagens é um pecado. Ablon, o protagonista, é um dos melhores personagens fantásticos (no sentido literal da palavra) que já vi. Quando acaba a leitura, a sensação do leitor é a de ter no Anjo Renegado um velho amigo, um amigo dos mais confidentes, tamanha é a profundidade na qual o autor mergulha. É possível entender cada motivação, cada atitude, cada fala do Querubim. E esse, meu amigo, é o ponto mais alto do livro. O mesmo acontece com os outros personagens, como Shamira, Aziel, Miguel, Lúcifer... Apesar de todos serem bem explorados, é impossível não destacar dois demônios que aparecem logo no início da história: Apollyon e Orion. Apollyon é o maior inimigo de Ablon, seu nêmesis desde os tempos em que era, também, um anjo guerreiro, conhecido como "Anjo Destruidor". Depois de ser jogado ao Inferno junto com Lúcifer e um terço dos anjos, o perverso demônio recebe a alcunha de "Exterminador". Orion, o Rei Caído de Atlântida, é um dos amigos mais antigos de Ablon, e se vê dividido entre acatar as ordens de seu Senhor, Lúcifer, e a amizade com o Anjo Renegado.

A história, em si, é muito rica em detalhes, e esse é outro ponto positivo. Nota-se que o autor pesquisou muito sobre variados temas, a fim de tornar seu romance mais verossímil, mas sem se prender estritamente à realidade. Os conceitos apresentados no enredo são muito interessantes e profundos, como a ideia de Deus estar adormecido durante o Sétimo Dia - que na verdade é uma era inteira. Uma coisa que achei particularmente bacana são as alcunhas que os anjos e os demônios recebem, que descrevem bem quais são suas principais características, como Nathanael "O Mais Puro" e Amael "Senhor dos Vulcões".

O capricho na parte gráfica também chama a atenção. As ilustrações da capa foram feitas pelo talentoso Harald Stricker, e o título do livro e o nome do autor vêm em alto relevo. Acabamento excelente. O único ponto negativo que destaco são alguns erros de acentuação em algumas palavras e a grafia de outras, o que, penso, é apenas um deslize na hora da revisão.

As influências são explicitadas pelo próprio Spohr no livro: o filme "Anjos Rebeldes", os quadrinhos do selo Vertigo, como Sandman e Preacher, além de Tolkien, H. P. Lovecraft e Joseph Campbell. Noto, porém, algumas outras influências, mais discretas, mas ainda assim perceptíveis, como jogos de RPG, filmes de ação (principalmente Matrix, em uma das melhores cenas, no fim do livro) e Bernard Cornwell. 

Um livro sensacional, merecedor, sim, do hype que antes foi questionado por mim, e de todos os elogios possíveis. Com A Batalha do Apocalipse, Eduardo Spohr brinda seus leitores com o melhor livro de ficção em língua portuguesa já escrito. E sem exageros.

14 de janeiro de 2010

Fala que eu (não) te Escuto

Não sei como são as pessoas onde você mora, mas na cidade onde vivo já há 6 anos, elas são carentes de atenção. E isso não é uma generalização, é apenas a constatação de uma característica do povo dessa parte do país. Em todo e qualquer lugar onde você for, aqui em Itaperuna (noroeste do Rio de Janeiro, quase na fronteira com Minas Gerais e Espírito Santo), será possível ver/ouvir alguém puxando conversa. Do nada.

Pode ser que eu seja apenas antipático, pode ser, mas fico muito incomodado com essa coisa da conversa que as pessoas têm por aqui. Vamos dar um exemplo simples. Digamos que uma senhora tenha uma consulta marcada com um médico. Digamos que ela chegue dois minutos atrasada. A probabilidade de ela chegar falando - com a secretária primeiro, para depois repetir para o doutor - que se atrasou porque "a minha filha esqueceu a chave, aí eu tive que voltar para abrir a porta pra ela, coitada" é de 98%. Os outros 2% correspondem à chance dela dizer que "a fila do banco estava muito grande, e ninguém merece ficar em pé esperando, e aquele banco é muito demorado, e eu vou colocar aquele banco na justiça".

Eu, como trabalho em um banco, posso dizer com propriedade isso. O número de pessoas que, todos os dias, vêm pagar contas e relatam (às vezes mais detalhadamente do que qualquer um gostaria de saber) as mazelas de suas vidas é imenso. Hoje, uma mulher de aproximadamente 40 anos veio pagar uma conta de luz, uma mísera conta de luz, e eu já sei que o filho dela estuda fora, que o marido dela está encostado no INSS e que o pagamento dele está atrasado. E eu ali, olhando pra ela com uma cara de paisagem que só eu sei fazer e pensando "whatever, mulher, whatever".

Uma que nunca falha é quando alguém vem pedir informação. As pessoas aqui não sabem só perguntar "onde tem um cartório aqui perto?". Elas perguntam "onde tem um cartório aqui perto?" e já mandam um combo com "é que eu preciso fazer uma declaração de não-sei-o-quê pro meu cunhado, que vai receber um dinheiro pra mim". E você ali, olhando, divagando.

Pensando nisso, abrindo os olhos para essa triste realidade, percebi que sim, as pessoas estão carentes de atenção. Todo mundo gosta de ser ouvido. Mas com a correria cotidiana, com os relacionamentos entre colegas de trabalho ficando cada vez mais superficiais, e com a própria intimidade entre os cônjuges (para quem é casado) ameaçada pela extensa carga horária do trabalho, ninguém tem mais tempo para conversar direito. Ninguém mais vai tomar uma Coca-Cola gelada e bater papo à toa.



Com o ritmo que o mundo acabou tomando, o tempo livre para as conversas está realmente escasso. Então, para compensar, as pessoas vão gastando suas cotas diárias de conversa com quem passar pela frente. Pode ser o frentista do posto, o barbeiro, o caixa do banco... Não importa. O que interessa mesmo é que todos querem, no fundo, se sentir ouvidos, sentir que alguém está entendendo aquilo que estão dizendo.

Gosto muito de observar esse tipo de detalhe, e até já aprendi a identificar a turma do small talk. O small talker (ou caça-assunto, em bom português) é aquele tipo de pessoa que entra num lugar e fica olhando para todos os lados, procurando alguém conhecido. Se encontrar, beleza, a conversa já está garantida. Se não encontrar... Aí, meu amigo, ele vai à caça. O primeiro que cruzar olhares com ele já era. "Quente, né? Nossa, com esse calor, não dá pra gente fazer nada. Porque o meu cunhado...". Sempre tem um cunhado no meio.

As pessoas estão, cada vez mais, atrás de atenção. Todo mundo gosta de se sentir importante, não é mesmo? E ouvir alguém, mesmo que não querendo fazê-lo, passa a essa pessoa uma sensação de que ela é importante a ponto de você parar o que está fazendo para escutar o que ela está dizendo. Isso, claro, são as minhas interpretações, eu que nunca estudei nada de Psicologia nem nada. E, pensando nisso, acabei fazendo uma outra relação, meio sem querer: não seria o blog uma espécie de small talk com alcance maior? Eu, por exemplo, escrevendo aqui. Não estaria eu falando para ninguém, na esperança de alguém perder um pouquinho de seu precioso tempo lendo esse texto? Fica a pergunta no ar. 

A Evolução da Propaganda

Não sou publicitário, nem especialista em marketing, em propaganda, em nada disso. Sou apenas um entusiasta dessa arte chamada Publicidade. Se você reparar minha lista de links ali no canto, verá que uma de minhas paradas obrigatórias diárias é o excelente blog Brainstorm #9, do Carlos Merigo (@cmerigo). E vendo alguns vídeos no Brainstorm, parei para pensar em como as propagandas evoluíram nos últimos anos.

Antigamente, para um produto ser sucesso, o que interessava era ter um jingle forte. Se você não viveu em outro planeta nos últimos 20 anos, com certeza vai lembrar de músicas clássicas das propagandas, como a do Guaraná Antarctica (Pipoca na panela... e por aí vai). Depois, veio a onda do humor - que meio que continua até hoje, só que repaginada. Agora, o negócio é viral. E, como em toda moda, tem gente que perde a mão e faz porcarias. E, como em toda moda, tem gente que acerta em cheio e faz comerciais fantásticos.

Abaixo, seguem dois exemplos do que estou falando. O primeiro é da loteria esportiva canadense, e apesar de ser engraçado, para mim não tem lógica alguma. O slogan está mal encaixado, e se você não souber do que se trata, não vai entender nada. O segundo eu peguei no B#9 e, confesso, não consigo parar de assistir. Feito exclusivamente para a Internet, o vídeo da Coca-Cola é um dos mais criativos que já vi, e usa com maestria o elemento viral.

Loteria Esportiva Canadense


Coca-Cola
 

13 de janeiro de 2010

O Homem mais Talentoso do Mundo

Se você acha que já viu de tudo nessa vida quando o assunto é Le Parkour... Ledo e Ivo engano. Esse cidadão é capaz de juntar skate, ioiô e mais um monte de habilidades inúteis ao Parkour e deixar qualquer um de boca aberta.



via @obuteco

12 de janeiro de 2010

Squareleaf - Mais uma ferramenta 2.0

Seguindo a onda das ferramentas e sites do universo 2.0 - universo este em que estou me aventurando nos últimos tempos -, descobri algo bastante útil para quem tem dificuldade de se organizar e usa bastante o computador: o Squareleaf. Traduzindo o nome livremente, seria algo como "folha quadrada", e a ideia dessa ferramenta é funcionar como um "quadro branco virtual", onde você pode postar seus lembretes e recados, no melhor estilo post-it (aqueles papeizinhos que você cola na geladeira, no armário e até na televisão).

O uso do Squareleaf é bem simples e intuitivo, e o cadastro no site é gratuito. As diferentes cores dos "papeizinhos virtuais" ajudam bastante na hora de distinguir entre as tarefas, e o bom é que você mesmo escolhe como quer organizar o seu painel. Se você é daquelas pessoas que passam a maior parte do dia em frente ao computador, o Squareleaf é uma mão na roda na hora de manter as coisas organizadas. Você pode anotar desde os seus compromissos do dia até coisas mais corriqueiras, como uma receita para fazer à noite, o telefone (ou e-mail, para manter as coisas no mundo 2.0) de alguém, enfim, o que limita o uso dessa ferramenta é a sua própria imaginação. Para quem ainda achou pouco, logo deve pintar uma versão "Pro" do site, com mais coisas legais para quem estiver disposto a desembolsar uma grana.



Este post está participando do Concurso Profissão Blogueiro, que vai premiar três blogueiros com netbook e kit completo para quem quer ter um blog de sucesso. Acesse www.ideiasnoar.com.br/profissaoblogueiro  

Chuva

Acabo de ler uma crônica do mestre Luis Fernando Veríssimo sobre chuva que me fez refletir. A chuva existe, realmente, desde que o mundo é mundo. O Grande Dilúvio foi causado, entre outras razões, por muita chuva. Assim sendo, por que ainda nos surpreendemos tanto quando ocorrem tragédias como as que têm acontecido no último mês? Por que tratamos toda enchente, todo desmoronamento, como se fossem coisas inéditas?

A questão da memória seletiva é pertinente aqui. Memória seletiva, no meu (raso) entendimento, é a capacidade que o cérebro tem de escolher aquilo que quer lembrar e quando quer fazê-lo. No caso da chuva, por exemplo. Quando o dia está bonito e faz calor, ninguém pensa que pode chover, que a rua alaga fácil. Todos vão para a praia - ou para a piscina, se você mora em alguma cidade longe do litoral. A pessoa só lembra do problema quando começa a chover. E aí vem o pânico.

Outro ponto interessante é o gosto pela tragédia. Já reparou que brasileiro (e creio que não apenas brasileiros) tem gosto pela desgraça? Basta ver que os dias em que os jornais mais são vendidos e assistidos são aqueles em que acontecem tragédias. Terremotos, maremotos, ataques terroristas, enchentes, acidentes aéreos/de trânsito... Com esse desejo ardente - e inconsciente - pelo acontecimento marcante, o brasileiro simplesmente ignora as possibilidades de algo ruim acontecer para que, quando isso de fato ocorrer, ele possa se colocar na posição de vítima. Sei lá, na minha cabeça isso fez sentido.



Creio, porém, que o grande motivo pelo qual ainda tratamos toda e qualquer desgraça relacionada à chuva como se fosse algo inédito é que somos burros. Sim, somos burros, e não aprendemos com nossos erros anteriores. Está certo que hoje em dia é difícil arranjar um lugar para morar, mas quão esperta é uma pessoa que constroi seu casebre no pé de uma encosta? Ou, pior, no topo da encosta? Sabendo que bueiros entopem com facilidade, pode ser considerado inteligente o cidadão que joga lixo na rua?

Como disse Veríssimo em seu excelente texto, o precedente da chuva ainda não nos ensinou nada. Mesmo em cidades onde a chuva faz parte do cenário (Itaperuna, por exemplo, tem até data marcada para as enchentes), nós simplesmente escolhemos ignorá-la. E enquanto isso continuar acontecendo, toda vez que chover, olharemos para cima com expressão de pavor, pensando: "Meu Deus, o que é isso? Água caindo do céu?".

11 de janeiro de 2010

Vicente, o Gerente

Bom, em busca de produzir meu próprio conteúdo para meu próprio blog, resolvi apostar nas clássicas tirinhas. Como não sei desenhar, me aproveitei da excelente ferramenta - que descobri hoje - que é o BitStrips, que permite a você criar seu personagem, fazer um background, inserir diálogos e o que mais sua imaginação permitir. Então, eis aí a primeira tirinha de Vicente, o Gerente mais ranzinza e escroto ever!
PS: Se quiser ver a tirinha com mais detalhes, é só clicar nela.



7 de janeiro de 2010

A Relevância dos Relevantes

Uma das palavras mais faladas atualmente no meio internético tem sido "relevância". Quem tem perfil no Twitter e segue determinadas pessoas sabe que a tal palavra, em determinados contextos, é utilizada quase tanto quanto uma vírgula ou uma pausa para respirar. "Relevância isso, relevância aquilo". Bom, mas o que é "relevância"? Segundo o senhor Aurélio, significa "importância". Ok, algo relevante é algo importante. Mas alguém relevante é, necessariamente, alguém importante?

Continuando no assunto Twitter, a relevância tem sido alvo de grandes discussões entre twitteiros considerados "famosos" (não vamos citar nomes aqui, certo? Você sabe de quem estou falando). Para essa turma, o número de pessoas que os seguem define precisamente a importância que eles têm - ou pensam ter - na Internet. Se o seu blog tem tantos pageviews por dia, você é relevante. Se não tem, você não é. Simples assim. Peraí, simples?

Com o advento dos scripts do Twitter, a fórmula do "mais followers, mais relevância" meio que perdeu a razão de ser. Pessoas que, teoricamente, não são importantes passaram, do dia para a noite, para o lado brilhoso dos holofotes. E teve muita gente mordida com isso, ah, se teve. Muita gente reclamando que estavam trapaceando no jogo, que com script não valia, e por aí vai. Como se tudo fosse um grande jogo e alguém tivesse acabado de desrespeitar a regra mais sagrada de todas.





Mas voltando à ideia de relevância. Digamos que o blog da Mariazinha tenha 4 mil pageviews por dia. Mesmo que a Mariazinha poste apenas coisas copiadas de outros blogs, o número de visitas que sua página recebe a coloca na lista das pessoas importantes da Internet, certo? Bom, é assim que muita gente pensa. Agora digamos que o blog do Joãozinho receba 30 pageviews por mês. De acordo com a tabela problogger de fama, Joãozinho é um ninguém, um mané que fez um blog apenas porque tá na moda. Mesmo que Joãozinho escreva textos excelentes, ou use o blog como portfólio de seu trabalho (que não é necessariamente ruim só porque o site tem poucas visitas).

A questão das visitas aos sites tem tornado muitas pessoas importantes demais, e outras, de menos. O conteúdo, que deveria ser o mais importante, é deixado de lado nessa briga pelo Ibope internético. "Eu tenho milhares de leitores, garoto, aprenda comigo". Mas vamos analisar com cuidado o significado da palavra relevância. Como já foi dito, relevância é igual a importância, ou seja, são sinônimos. E aí vamos entrar em uma questão interessante: qual é a importância verdadeira de um blog para a Internet brasileira enquanto instituição? Quantos milhões de reais uma empresa vai ganhar anunciando em um blog? Quantos milhares de clientes uma marca vai conquistar colocando o logo dela no fim de um post (pago)? Será que os executivos do alto escalão de alguma marca vão pensar "o que seria de nós sem aquele blog?"?

No lugar de "eu sou relevante, você não é, seu perdedor", não seria muito mais interessante ver posts inteligentes em blogs? Posts originais, e não apenas copiados de um ou de outro? Chega de perguntas. Aliás, ignore esse texto, por favor. O bloguinho aqui tem pouquíssimas pageviews, e com certeza os argumentos desse texto não são nada relevantes. Desconsidere.

[Vídeo] Zakk Wylde - Machine Gun Man

Aqui, temos uma das melhores performances ao vivo de voz e violão ever. O sujeito do vídeo a seguir é Zakk Wylde, guitarrista/vocalista/líder do Black Label Society, uma boa banda de heavy metal. A música é da época de sua extinta banda de southern rock (que, em minha opinião, é o estilo ideal para Wylde), Pride & Glory.

6 de janeiro de 2010

Como Sobreviver a um Filme de Terror

É noite. Você viaja de carro com três amigos. Chove um pouquinho. A música está alta, todos cantam animados. Apesar de estar dirigindo há menos de duas horas, você não vê nenhum outro carro na estrada já há um bom tempo. A chuva agora está mais forte. De repente, o carro começa a falhar. Dá aquela engasgada, você para no acostamento, tenta ligar, não funciona, tenta de novo, mas não dá. A saída óbvia é ligar para o guincho, mas - surpresa! - o celular não pega.

Como numa deixa de cinema, um de seus amigos (provavelmente o mais esperto) avista uma casa no meio do mato. Não há nenhuma luz acesa do lado de fora, apenas uma chama bruxuleante do lado de dentro, visível pela janela. O gênio então dá a ideia: "Vamos lá pedir ajuda!".

Você com certeza já viu algum filme de terror assim. Se não era exatamente assim, era variação poética disso - tipo um cara atropelado em uma noite chuvosa e jogado no lago, ou uma turma de curiosos que resolve brincar com lendas urbanas em um prédio abandonado da faculdade. Depois de perder um tempo precioso de vida assistindo lástimas como O Massacre da Serra Elétrica: O Início e Casa de Cera, resolvi criar um guia para ajudar você a sobreviver, caso passe por alguma situação parecida com a citadas.




1º - Nunca entre numa casa se a porta estiver aberta, mas ninguém atender a campainha (especialmente se a casa estiver em um lugar ermo);

2º - Se estiver viajando em grupo, não caia na besteira de se separar de seus amigos. Já está mais do que provado que os assassinos de filme sempre matam um por um, até restar apenas o protagonista (às vezes, nem ele se salva);

3º - No caso de estar sendo perseguido pelo bad guy, Não corra olhando para trás. Mire um ponto distante no horizonte e mande ver, Usain Bolt style. Apesar de o vilão estar caminhando (raramente eles correm, já percebeu?), ele provavelmente vai alcançar você;

4º - Se ainda estiver fugindo, não busque refúgio em seu carro. Ele enguiçou no início do filme, lembra? E nunca vi carros se consertarem sozinhos;

5º - Digamos que você tenha conseguido despistar seu perseguidor. Por favor, não se esconda. Se for possível, continue correndo até achar algum lugar povoado, um posto policial ou um telefone que funcione (raridade também). Se você resolver se esconder, não tenha dúvidas que o malvadão pensou no mesmo lugar, e o que é pior, antes de você;

6º - Nunca, jamais, never, em hipótese alguma, grite ao encontrar o corpo de um de seus amigos. A não ser que seu perseguidor seja surdo, seu grito só vai ajudá-lo a encontrar você mais rapidamente;

7º - Se quiser bancar o heroi, faça isso com uma arma decente. Por mais que uma chave inglesa ou um taco de basebol machuquem, o assassino é sempre muito resistente. Facas e barras grandes de ferro são a melhor pedida, mas lembre-se: facadas, só do pescoço pra cima ou na região dos pulmões ou na boca do estômago; se a sua escolha for a barra de ferro, bata primeiro nas pernas, pro safado cair, e depois atinja-o na cabeça repetidas vezes. Se bater uma só, ele acorda depois e te mata;

8º - Não se tranque em lugar algum. A probabilidade de o assassino conhecer o lugar melhor do que você é enorme, e a de você virar picadinho segue a mesma proporção;

9º - Não tente ressuscitar lendas urbanas;

10º - Não brinque de se fantasiar de algum serial killer conhecido. Ele pode aparecer de verdade, matar todo mundo e você levar a culpa (isso se ele não te matar também);

11º - Não faça rituais para invocar bruxas, demônios ou outras entidades malignas. Vai dar errado;

12º - Não faça sexo. Quem transa em filmes de terror, especialmente em acampamentos, morre rápido;

13º - Não aceite caronas;

14º - Não dê caronas;

15º - Não aceite a hospitalidade de velhinhos esquisitos, nem de famílias que possuem açougues;

16º - Vampiros não existem, beleza. Mas se, por acaso, um sanguessuga cruzar o seu caminho, não se iluda achando que aquele crucifixo que vovó te deu na primeira comunhão vai resolver alguma coisa. O negócio é correr muito (Usain Bolt style) ou mandar uma estaca de madeira direto no coração do bicho.

5 de janeiro de 2010

O Rock e seu Discurso

Em sua origem, o rock era um gênero musical basicamente dançante. Poucas eram as músicas que tinham letras mais profundas ou que passavam alguma espécie de mensagem, fora balançar o esqueleto. Mesmo assim, o início desse movimento foi extremamente importante para a cena musical mundial, pois dele derivaram todos os outros estilos de rock que conhecemos hoje em dia (hard rock, punk, progressivo e assim por diante). Assim, a importância do rock não estava em seu discurso lírico, e sim na mudança de comportamento que ele acabou estimulando.

Pouco tempo após o sucesso estrondoso de Elvis Presley, considerado até hoje o "rei do rock", outros artistas começaram a fazer sucesso - destaco, aqui, os Beatles. O grupo britânico, capitaneado pela dupla Lennon/McCartney, fez o rock evoluir de maneira gigantesca em todos os aspectos. Além de as partes instrumentais passarem a ser mais trabalhadas tecnicamente, as letras começaram a ter mensagens de verdade. O tema "balançar o esqueleto" ainda estava lá - 'Twist and Shout', por exemplo -, mas os Fab Four mostravam que tinham mais coisas a dizer - um bom exemplo disso é "Across the Universe".

A próxima grande "onda" do rock foi a do progressivo. Instrumentistas influenciados por diversos estilos, como música erudita, jazz e blues, misturaram tudo o que sabiam para criar músicas grandiosas, cheias de texturas e climas. Na parte lírica, a turma do rock progressivo usava e abusava de referências a obras literárias em suas letras. A mensagem era, então, intencionalmente mais profunda, visto que a literatura é, em essência, a forma de arte que mais leva à reflexão. Resumindo, a ideia do progressivo era pegar o que já existia em termos de rock e elevar aquilo ao cubo.


 
Quase que imediatamente após o progressivo, surgiu o completo oposto: o movimento punk. O instrumental simples, por vezes até amador, era sustentado por letras ácidas, que cuspiam na cara do ouvinte toda a insatisfação dos punks com a podridão do mundo. O fato de as músicas terem três ou quatro acordes (no máximo) não significava nada para eles. A grande questão era que eles tinham algo a dizer e era isso que interessava. Depois, vieram diversas outras ondas, como a do hard (onde o objetivo era a pura diversão, por isso as letras falavam de festas, bebidas, mulheres e sexo, e por isso as vestimentas eram espalhafatosas), do heavy metal (que sempre foi um movimento mais "sério", com letras mais maduras e instrumental trabalhado, mas sempre com exceções) e do grunge (que foi um punk moderno, só que o foco era menos social e mais pessoal do que o da turma do moicano).

Fazendo esse breve (e falho, perdão) histórico do rock no mundo, é fácil perceber que o rock sempre teve uma mensagem a passar, um discurso próprio. Às vezes, a mensagem era simplesmente "dance até seus pés doerem", às vezes era "não aguento mais a repressão". A questão é que a música era feita por alguém que tinha algo a dizer. Mas e hoje? Qual é a mensagem do rock hoje em dia? O amor é um tema sempre presente, em qualquer época do estilo, mas o que vemos hoje é esse sentimento transformado em choradeira, em lamentação. As questões sociais dificilmente são abordadas atualmente, talvez porque tudo realmente esteja às mil maravilhas.

Uma das grandes características do rock, desde sua origem, é a capacidade que este gênero musical possui de influenciar o comportamento dos ouvintes. O rock sempre foi o estilo "transgressor", "rebelde", e essa alcunha tem sua verdade, no sentido de não haver conformismo, de não aceitar nada ser empurrado goela abaixo... Mas qual é a influência do rock hoje em dia? O penteado? A cor das suas unhas, o modelo do seu tênis, a estampa da sua camisa? O rock, ao que parece, está se tornando um estilo cada vez mais genérico, apenas uma "maquiagem" sonora para alcançar uma geração "rebelde (realmente entre aspas)", que não tem nada a dizer. Pode me chamar de saudosista, se você quiser, mas eu não troco, de forma alguma, qualquer música do Legião Urbana - que tinha no máximo cinco acordes, mas passava mensagens de explodir a cabeça - pelo "rock" de hoje em dia.