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24 de junho de 2010

Haiti - Final

Bom, tem quase dois meses que cheguei do Haiti. Passei pouco tempo lá, mas foram dias extremamente intensos. Agora entendo o que esse pessoal que participa só da primeira semana do Big Brother quer dizer quando diz que “essa semana pareceu um ano”. Por menos tempo que você tenha passado em alguma situação diferente do que você está acostumado, esse tempo sempre será marcante.
Tirar você da sua realidade e colocar em outra completamente diferente é algo que deixa, sim, marcas profundas. Não tem um só dia que eu não lembre do tempo que passei em Port-au-Prince, das conversas com as pessoas que conheci – brasileiros e haitianos -, das cenas quase cinematográficas que presenciei naquele lugar. O Haiti é um outro mundo, um outro universo, completamente diferente do que qualquer coisa que eu já tivesse visto antes.
A pobreza lá excede os padrões que jamais imaginei. As pessoas simplesmente não têm nada. Não há comida, não há emprego, não há dinheiro (exceto com os estrangeiros, ou com os poucos haitianos que conseguem algum trabalho), não há higiene. Aliás, a higiene é um assunto à parte aqui. Para quem vive nos camps, aqueles acampamentos gigantes onde todo mundo mora em barracas, qualquer lugar é banheiro. Tive a oportunidade de passar uma tarde e uma noite em um lugar desses, dormindo em uma tenda com outras seis pessoas. Quando perguntei a nosso intérprete onde poderia urinar, ele simplesmente abriu os braços e disse: “É só escolher o lugar, meu amigo. Qualquer lugar, exceto dentro da barraca”. E ele não estava brincando, infelizmente.


Mas de tudo o que aprendi nessa viagem, a lição mais preciosa que veio comigo na mochila foi a gratidão. Sabe quando você está naquelas fases em que nada parece dar certo, que parece que Deus não está olhando pra você? Fui pra lá assim. E voltei de lá com outra visão de vida. Voltei mais grato por tudo o que tenho. Ando de bicicleta porque não tenho carro nem moto. Às vezes reclamo, porque é muito cansativo andar pra lá e pra cá de bicicleta. Mas, assim que reclamo, lembro que conheci pessoas que dariam tudo o que têm para ter uma bicicleta, e a insatisfação passa.


Aprendi, lá, o que é crer em Deus de verdade. Muita gente que conheço (inclusive eu, às vezes) reclama de Deus porque não tem aquele emprego que gostaria, ou o carro dos sonhos, ou isso ou aquilo. Meus amigos haitianos prestam cultos a Deus todos os dias porque estão vivos. Porque entendem que Deus os sustenta, mesmo que a comida não seja abundante. Porque têm alguma roupa para vestir, mesmo que já tenha sido usada por alguém antes. E principalmente porque acreditam que Deus, apesar de qualquer situação, está sempre no controle.
Ao povo do Haiti, tenho a mais profunda gratidão por todas as lições que me ensinaram. Sou uma pessoa diferente – melhor, espero – depois dessa experiência. Conheci pessoas fantásticas, espero ter feito amizades sinceras e peço a Deus que me dê a oportunidade de retornar a Port-au-Prince para abraçar novamente meus amigos Emannuel, Jean Baptiste, Civil, Vijonet e Ezequiel.

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