Comemos uma deliciosa macarronada no café da manhã, devidamente temperada com o que o haitiano mais usa em sua cozinha: pimenta. Macarronada apimentada com banana frita e suco no café da manhã. Nessa hora, as equipes já estavam se preparando, cada uma para seguir para a sua tarefa. Fiquei na equipe médica. Juntamos as malas com os medicamentos e os equipamentos, entramos no ônibus escolar que nos servia de transporte e partimos para um dos bairros mais pobres da capital, Tabas.
Esse era o nosso transporte por lá: um ônibus escolar
Nosso objetivo, nesse primeiro dia de atendimentos médicos, era atender aproximadamente 100 pessoas, entre crianças e adultos, no orfanato organizado pelo pastor Winslet Methenis em sua própria casa. Antes do terremoto, o pastor cuidava de pouco mais de dez crianças. Após a catástrofe, o número subiu para quase 50. Montamos nossa estrutura sob uma lona daquelas de exército, que protegem bastante da chuva. Se tivesse chovido naquele dia, a lona seria útil. No entanto, o calor de 42 graus só transformou a tenda num forno. O dia foi tenso, pois não sabíamos direito o que iríamos encontrar por lá. O haitiano, em geral, não tem noção de organização. Para ele, o que interessa é o aqui e o agora. Depois, se vê o que faz. Com a comida é assim, com as roupas é assim, e infelizmente foi assim com o atendimento médico. Por mais que nos esforçássemos para manter a ordem e organizar filas, eles simplesmente não entendiam que todos seriam atendidos. Todos têm a mentalidade do “eu primeiro”, o que dificultou um pouco as coisas. Chegamos no orfanato pouco depois das nove horas e saímos às quatro da tarde, após 120 atendimentos. Exaustos, voltamos para nossa base, a casa do pastor Demero.
À noite, participamos de mais um culto. A pregação ficou por conta do pastor Osmundo, de Campinas (SP), que botou o povo literalmente pra marchar. Foi engraçado e abençoador, apesar de eu estar tão cansado que quase não consegui me manter acordado. Tive uma ótima conversa com o Roni, de São José dos Campos (SP), sobre diversos aspectos da vida cristã. O que mais me chamou a atenção foi que, para ele, a viagem estava servindo para uma coisa, enquanto para mim, para outra. E isso pude notar: cada um estava ali por um motivo diferente. No entanto, uma coisa era comum a todos: independente de qual era a tarefa a ser desempenhada, todos estavam ali com a convicção de que nosso trabalho estava fazendo a diferença na vida de algumas pessoas. E essa era a melhor recompensa de todas.