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14 de dezembro de 2010

A Feira

Antropólogos, sociólogos, psicólogos e muitos outros ‘ólogos’ têm estudado a natureza humana há muitos séculos. Tratados, livros, ensaios e artigos já foram feitos sobre o tema, sempre buscando compreender de maneira mais profunda a essência do homem. Infelizmente, não se chegou ainda a uma teoria definitiva sobre quem é o homem realmente.

Bla, bla, bla. Garanto pra você que se qualquer um desses ‘ólogos’ fosse à feira, ele entenderia tudo o que se precisa entender sobre a humanidade. No último sábado, fui à feira com minha esposa. Nunca tinha sequer pisado em um lugar como aquele, onde se vende de tudo o que se pode imaginar. Frutas, legumes, verduras, galinhas (vivas e mortas), patos, pastel, caldo de cana, cachaça, temperos, queijos, mel e por aí vai. Na feira tem de tudo um pouco. E naqueles poucos minutos em que estive naquela sucursal do Hades, tive um insight sobre a natureza do homem. E que insight.

Na feira, você vê o que o ditado “se o pirão é pouco, primeiro o meu” (você conhece esse ditado? Aprendi esses dias) quer realmente dizer. Imagine a seguinte cena: uma barraca que vende tomates já está com seu estoque quase no final. Duas senhoras analisam o que restou e pegam ao mesmo tempo um tomate. A senhora pode soltar este tomate? Não, eu vi primeiro. Sim, mas eu que peguei. Não, eu que peguei. Discussão. O dono da barraca pede calma. Nem eu nem ela, pensa uma das mulheres, e amassa o bonito tomate. Assim funcionam as coisas na feira.


O espírito de competição é algo completamente palpável na feira. Você caminha por todas as barracas procurando um preço bom, até encontrar o pacote de quiabo mais barato. Você compra por um cruzado. Depois, quando não está mais procurando, encontra mais barato. E você sente aquela sensação de derrota, de “fui enganado”, de “perdi o jogo”. Por causa de alguns centavos.

Na feira todo mundo é seu amigo e seu rival. Você entra em uma barraca, analisa com cuidado os produtos, e o senhor do seu lado diz que aqui tem umas coisas boas, mas naquela barraca ali não tem nada que preste. Você sorri daquele jeito, sabe?, quando você não quer conversar e nem ser rude com a pessoa. É, aqui as coisas estão bonitas. O velho dá uma volta e vai parar na barraca onde nada presta. Curioso, primeiro dá conselhos valiosos, depois te passa a perna e vai comprar em outro lugar.

Ali, em meio às verduras e as frutas, entre um abacaxi e a taioba, você entende quem o homem realmente é. Competitivo, invejoso, exibido, astuto, burro, esperto, lento, malandro. Todas as nuances existentes na alma humana se encontram em um só lugar, uma vez por semana, por um curto espaço de tempo, algo comparável apenas aos alinhamentos galácticos mais complexos do universo: este lugar é a feira.

Um comentário:

Daniel Silva disse...

hahahaha

é bem assim mesmo que acontece. mas e aí, Ice. como tá a vida?

abraço